Alguém já deve ter se perguntado se beber é
pecado. Eu mesma tinha dúvidas. Se você tem alguma, é muito importante que você
leia o texto, é grande, mas vale apena.
Sempre ouvi dizer que o álcool já havia sido
proibido e chegaram à conclusão que a proibição foi pior, aquela historia do Al
Capone, a Lei Seca. E de fato nunca me importei com isso, acho que se uma coisa
não deu certo, muda, não dá pra fazer posição de fé em tudo, e foi exatamente
isso que me chamou atenção, o álcool havia sido posição de fé e, de repente...
algo aconteceu. Nunca estudei história à luz dos acontecimentos em si, mas quem
eram aquelas pessoas que viveram aquele momento, como era seu dia-a-dia, qual
sua religião, ou o que acreditavam, quem eram seus amigos, e qual o elo que
conectava suas idéias à sociedade e àquele momento histórico. Meu pensamento é
bem simples, e mais eficiente que o Racionalismo
de Weber: você captura um do grupo e ele te leva aos outros, é inadmissível
admitir que o cotidiano dessas pessoas, sua vida familiar e seus ideais, seus
vícios, suas convicções, sejam tão facilmente quebradas por pequenas nuvens
políticas, econômicas, científicas, sem que tomem conhecimento ou percepção do
que todas aquelas mudanças significam em suas vidas, que suas crenças e tradições
transferidas milenarmente sejam tão facilmente quebradas por essas idéias que
surgem milagrosamente ao acaso, sem possuir nenhuma representatividade de um
coletivo, sendo um acontecimento restrito, sem maiores complicações, um simples
acontecimento de época.
A questão seria por que o álcool foi liberado,
mas a questão maior era por quê que ele foi proibido. Ora, todos sabem que o
motivo da sua proibição foi religião, e a sua liberação, motivos sociais,
econômicos, ou mesmo, políticos. Ou... o que isso tudo tem em comum? Dá mesmo
pra separar burgueses de camponeses, católicos de protestantes, de americanos,
de ingleses, álcool de cannabis? O que aconteceu?
Historicamente, só a fé destrói aquilo que ela
construiu, e não poderia ser diferente no caso do álcool.
Tudo começa em 1532, quando a primeira bíblia é
traduzida pelo genial e igualmente perturbado Martin Luther (Martinho Lutero).
Mais tarde, outra criatura muito interessante, Calvino, fez a outra tradução
bíblica, a Bíblia Geneva e, associada a ela, estudos, os quais foram chamados
de Institutos, que em linhas gerais
são teses reformadoras das interpretações da Bíblia Católica. Lutero, anteriormente
teria enviado ao Papa 95 Teses Reformadoras. Segundo historiadores, ele mesmo
teria alterado várias palavras bíblicas, e alguns historiadores de época ainda
acrescentariam que ele teria tirado páginas inteiras, na opinião de Lutero sua
interpretação refletia melhor os textos Bíblicos.
Calvino teria melhorado e “arredondado” as
interpretações polêmicas de Lutero e acrescentado a elas a sua interpretação nos
pontos divergentes. De modo que no ano de 1541, em Geneva, nascia a sede do
Protestantismo.
No núcleo dessas idéias reformadoras
Calvinistas estaria o Puritanismo, digo, Lutero já havia iniciado, ele e Calvino já se falavam, inclusive algumas literaturas afirmam até que já haviam se encontravam, e o intuito de Lutero era “endireitar a Igreja
Católica”, mas Calvino dizia ser impossível, pois esta já estava toda
corrompida, teria que ser um novo sistema. Uma das explicações possíveis foi a
tradução de Lutero, com
Lutero o ascetismo praticado pelos monges fora do mundo é transferido das celas
dos mosteiros para o mundo secular, nasce daí o ascetismo intramundano. Na tradução de Martinho Lutero , ao contrário da concepção católica, "vocação" deixa de ter o
sentido de um chamado para a vida religiosa ou sacerdotal e passa a ter o
sentido do chamado de Deus para o exercício da profissão no mundo do trabalho. E
de fato, Weber constatou que essas pessoas haviam desenvolvido um tipo singular
de burocracia, trabalho e o uso de racionalidade. Passo seguinte, ele
dedicou-se a analisar a contribuição do luteranismo, e disse também que do Calvinismo emana a
célebre tese da Predestinação, dogma que afirma que apenas Deus escolhe
- independente dos méritos do indivíduo - quem será salvo e quem será
condenado. Diante da angústia religiosa sofrida pelo indivíduo, o trabalho e o
sucesso na vida econômica surgem como compromissos do crente e como indícios
(embora não meio) de certeza da salvação. Analisando todo o processo em seu
conjunto, Weber verifica que dos dogmas e, em especial, dos impulsos morais do
protestantismo, derivados após a reforma de Lutero, surge uma forma de vida de
caráter metódico, disciplinado e racional. Da base moral do protestantismo
surge não só a valorização religiosa do trabalho e da riqueza, mas também uma
forma de vida que submete toda a existência do indivíduo a uma lógica férrea e
coerente: uma personalidade sistemática e ordenada. Sem estes impulsos morais
não seria possível compreender a ideia de vocação profissional, concepção que
subjaz as figuras modernas do operário e do empresário. A moral específica dos
círculos protestantes possuem uma relação de afinidade eletiva com o
comportamento (espírito) que subjaz ao sistema econômico moderno e, ainda que
este não derive apenas deste fator,trata-se de um impulso vital para o
entendimento do mundo moderno contemporâneo.
Os Puritanos: Os EUA foram colonizados
basicamente por protestantes calvinistas, a migração em massa que começou em
1630 [a “Grande Migração”] de
Ingleses Puritanos para a América do Norte. Naquela década, 20.000 Puritanos
foram para a América, com seu grande desejo de estender o Reino de Deus para
todos os povos. E com a oportunidade de estabelecer um bem-comum Divino se configurando em uma possibilidade real,
congregações inteiras embarcaram no navio e plantaram a Colônia de
Massachusetts Bay. John Winthrop lembrou ao povo que eles deveriam se tornar
como a “Cidade na Colina”, para o resto do mundo ver. Não haveria mais lutas
sobre as vestimentas espalhafatosas dos padres, catedrais sacerdotais, ou
bispos comprometedores. Os princípios reguladores de veneração não mais seriam
uma doutrina de campo de batalha, mas uma regra comumente aceita. E a isso
chamou de Liberdade, uma Igualdade em Cristo.
Os puritanos estavam entre os assentadores
Ingleses originais da América do Norte; eles chegaram lá pela primeira vez em
Massachusetts em 1630. De acordo com James Morone, “Nenhum aspecto do mundo
Puritano é mais comumente lembrado do que a noção de uma missão, uma tarefa no
mundo selvagem selada por um pacto com Deus. A missão dos primeiros Puritanos
Americanos se assegurava sobre os conceitos de responsabilidade individual e
comum. Indivíduos controlavam seu destino final: salvação pros justos, e eternal damnation pros pecadores. Contudo,
o pacto Puritano mantinha a comunidade inteira responsável pelos pecadores nessa vida. Deus puniria a todos,
santos e pecadores, com doenças, secas, fome e outras desgraças, se a comunidade não reformasse seus
pecadores. Como os indivíduos e comunidades poderiam alcançar sucesso e
salvação?”.
Pra piorar as coisas ainda mais, Benjamin Rush,
um médico da Filadélfia, escreveu, em 1805, um artigo intitulado “Os Efeitos
dos Espíritos Ardentes Sobre o Homem”. A escrita de Rush refletia as mudanças
de atitude em relação ao álcool destilado naquela época, especialmente entre a
comunidade médica dos EUA. O artigo de Rush se desenhou sobre idéias de um
século anterior (no início do século 18, praticantes médicos começaram a levar
um “approach mais científico em relação à medicina”). Cientistas e médicos como
Rush sentiam que o público americano precisava ser alertado sobre as
complicações de saúde inerentes ao consumo de álcool. Os argumentos de Rush
contra o consumo dos espíritos ardentes não eram só científicos, mas também de
moral. No final de seu artigo, Rush descreveu os evils morais que resultaram do uso de espíritos destilados, tais
como fraude, roubo, impureza/sujeira e assassinato. Não muito tempo após Rush
ter começado a escrever sobre os efeitos nocivos do álcool na moral e na saúde
física, ele começou a corresponder-se com o Ministro da Igreja de Long Lane de
Boston, Jeremy Belknap. O médico e o ministro logo se tornaram colaboradores,
usando uma mistura de clamores morais e científicos contra o consumo de bebidas
alcóolicas. Rush não era um homem comum, ele era chamado de Padre Fundador dos
EUA e foi um dos que assinou a Carta de Independência dos EUA, sua biografia é
impressionante, químico, teólogo, médico, político, se comparava ao profeta
Jeremias, acreditava que a formação dos Estados Unidos era comparável ao feito
de Moisés e Abraão, um homem de “convenent”, não apenas de fé, mas de
compromisso com Deus, e ele realmente foi a base pra tudo que se seguiu, seu
nome estava sempre presente em qualquer emenda a ser aprovada, e provavelmente
deve ser presente até hoje. É uma pena ele não ter feito nenhum estudo sobre a
cannabis, com certeza chegaria a Temperança também, alguma coisa do tipo
“apenas a cannabis indica possui espíritos malignos” ou algo assim.
O reflexo dessa colonização e sua visão
teológica da sociedade podem ser facilmente identificados pela maior
organização social na época da proibição: a WCTU. A proibição foi religiosa,
isso é um fato. E a liberação? Vamos a ela, então:
No discurso de Ella Boole, presidente da
WCTU-NY, falou que “elas representavam não só as mulheres, mas as famílias, as
escolas e a Igreja de todos os americanos”.
Ou seja, mais uma vez, a religião determinando a
política a ser editada. O background disso era um choque ideológico religioso:
o veio Protestantista Calvinista precisava abrir o ângulo da moral. O
nascimento de outra ideologia, o Modernismo, que mais uma vez, buscava uma nova
interpretação da bíblia, principalmente dos evangelhos, abriu um leque pra
novas denominações protestantes, para contrapor a atitude Isolacionista que os
Puritanos haviam implantado, o terror praticado pela WCTU, ligada intimamente a
KKK [que, aliás, de acordo com os dados, só em 1925 teriam matado 14 pessoas
por desrespeitarem a Proibição]. Consta em sua biografia: De meados de 1870 ao início de
1890, as integrantes da WCTU utilizavam táticas preferivelmente extremas para
convencer os Americanos a se absterem do álcool, elas piqueteavam bares e
saloons, elas oravam pelas almas dos donos de bar. Elas também tentavam
bloquear as entradas de estabelecimentos que vendiam bebidas alcóolicas”.
A Proibição Nacional vem sendo interpretada
como uma guerra cultural entre Protestantes [que já eram bem-estabelecidos na
América do Norte], e os recém-chegados imigrantes Católicos e Judeus, os quais
tipicamente bebiam bebidas alcoólicas como parte de sua cultura. As membras da
WCTU incluíam mulheres de quase todos os setores da vida Norte-Americana, mas
consistia em grande parte em mulheres de classe baixa e classe média com fortes
laços com as igrejas Evangélicas Protestantes, e não aceitavam Católicos,
Judeus, nem mulheres Afro-Americanas ou mulheres que não tivessem nascido na
América do Norte. A WCTU estava ansiosa para “Americanizar” os novos
imigrantes, e parte dessa missão era persuadi-los a absterem-se das bebidas
alcoólicas. Nas primeiras duas décadas do Século XX, muito de seu orçamento era
gasto em seu centro em Ellis Island para começar este processo de
“Americanização”. Uma das líderes da WCTU expressou forte preocupação sobre “o
enorme aumento de populações imigrantes nos afogando com o velho mundo, homens
e mulheres que trouxeram para os nossos litorais e para as nossas políticas,
hábitos e idéias do velho mundo favoráveis ao álcool”, e apimentou sua escrita
com referências a “estes imigrantes indesejáveis” e “estes imigrantes
clandestinos”.
Por a WCTU considerar que o consumo de álcool é
maléfico, é pecado, ela rejeita a corrente principal da crença Cristã de que o
consumo de álcool em moderação não é pecaminoso.
É nesse cenário que apareceu Pauline
Morton Sabin. Pauline,
que estava presente no discurso proferido por Ella Boole [Proibição-18º Aditamento],
e pensou: “bem, damas, aqui está uma mulher que vocês não representam”. Em
meados de 1929, Pauline fundou a WONPR, basicamente formada por católicas,
fundamentalistas, e mulheres protestantes das camadas mais humildes e negras.
Pauline tornou público uma curiosidade
sobre a mulher americana: uma delas, é que muitas delas bebiam, e a outra é que
praticamente todas elas utilizavam um remédio chamado Lydia Pinkhams’s Vegetable Compound, que continha 21%
de teor alcóolico, pra dores de cabeça.
A WONPR apoiou a Repelência em uma
plataforma da “verdadeira” Temperança, clamando que “a tendência em relação à
moderação e restrição no uso de bebidas intoxicantes foi revertida pela
Proibição”. Apesar de suas causas estarem em oposição direta, a WONPR espelhou
as técnicas de advocacia da WCTU. Elas caçavam votos de porta em porta,
encorajavam políticos de todos os níveis a incorporar a Repelência pras suas
plataformas de Partido, criavam petições, davam discursos em rádios e
entrevistas, dispersavam literaturas persuasivas, e faziam reuniões
capitulares.
Na época, a WONPR também trabalhava em cooperação com outros
grupos Anti-Proibição. Em 1932, a AAPA, o Comitê Voluntário dos Advogados, os
Guerreiros das Cruzadas, a Organização American Hotel, e a WONPR formaram o Conselho Unido da Repelência. Em 1932
ainda, o Conselho Unido da Repelência intercedeu tanto nas convenções do
Partido Republicano quanto nas convenções do Partido Democrático para integrar a Repelência nas suas
respectivas campanhas de Eleições Presidenciais. No final das contas, o Partido
republicano continuou a defender a Proibição. Então a WONPR, que inicialmente
começou como organização não partidária, juntou-se à Campanha Democrática e
suportou Franklin D. Roosevelt. De modo que estava explicado: o que a WCTU fez,
a WONPR desfez; pelos mesmos motivos: Religião.
Em seu discurso de posse, Roosevelt
fez uma declaração um tanto contraditória: que a sua primeira missão era
recuperar a fé do povo americano, e para isso, era preciso “não ter medo de
sentir medo”. Pensei “será que ele tá se
referindo a beber álcool..?”. É sabido por todos que a cannabis assumiu o posto
de Demônio nessa época, livrando a cara do álcool, mas sem me ater aos fatos, e
o que representava cada célula individual daquela população e suas crenças,
como algo tão demoníaco virou Santo? Proibições e regulações existiram naquela
época e existem até hoje, como no caso da bebida destilada, onde havia-se uma
total convicção de que aquilo se tratava do demônio, era uma unanimidade, e
foram-se esquecidos. É óbvio que nesse momento você fica tentado a aceitar uma
outra teoria que não a religião, mas não praquele povo, naquela época, em suas
convicções, em suas raízes, seria muito aceitar que o motivo econômico teria
feito as pazes com o Diabo e, mais que isso, tivesse aceitado ganhar dinheiro
com ele e trabalhar pra ele, e de quebra ainda ir resolvendo o problema da
moral, isso seria aceitar que o Diabo venceu, o vício prevaleceu, frente à fé.
Digo, o motivo da Proibição foi religioso, e o da Liberação não..? E de fato
existiu um motivo, que inclusive é amplamente falado na bíblia: o vinho. A
Bíblia não fala em suco de uva, é álcool mesmo, e Benjamin Rush sabia disso,
mas livrou a cara do vinho, e foi basicamente poraí que a comunidade
Protestante de outras denominações menos radicais que os Calvinistas, foram
convencidos, um intenso debate Ideológico se travou neste período, entre
Católicos e Protestantes, mais uma vez. Isso está descrito na História da
Religião Americana.
Quem resolveu esse problema foi nada
menos que as Escrituras. As Escrituras mencionam “vinho” mais de duzentas
vezes, tanto no contexto positivo quanto no negativo, afirma Eric Adams, um dos
mais respeitados teólogos, graduado em Filosofia pela Universidade Estadual do
Kansas. Alguns cristãos usaram essa distinção positivo/negativa pra argumentar
que a Bíblia está falando em dois tipos diferentes de vinho, que quando a
Bíblia fala positivamente do vinho, então está se referindo ao vinho como suco
de uva e não alcóolico, e quando ela fala negativamente do vinho, então está se
referindo ao vinho como vinho mesmo, alcóolico. Este argumento era muito
popular entre os proibicionistas, particularmente aqueles do movimento da
Temperança. A vantagem desta posição é que parece ter em conta todas as
Escrituras, digo, não precisou arrancar nenhuma página;
Contudo, “a alegada distinção entre
vinho alcóolico e suco de uva não alcóolico não existe na Bíblia. A Bíblia usa
a mesma palavra para vinho, tanto no aspecto positivo quanto no negativo. A
distinção entre o positivo/negativo tem a ver com o uso/abuso do álcool, quando
a Bíblia fala positivamente do vinho, refere-se ao uso moderado do álcool,
quando ela fala negativamente do álcool, está se referindo ao abuso do álcool,
ou embriaguez”. O particular argumento dos abstencionistas, de que o vinho
descrito na Bíblia era “quase não alcoólico”, demanda que o vinho fosse
altamente diluído. Enquanto a diluição era certamente usada em algumas
circunstâncias, isso estava longe de ser uma prática universal. As advertências
Bíblicas contra a embriaguez deviam ser suficientes pra provar que quase
ninguém estava diluindo. Obviamente, pelo menos boa parte do povo estava
tomando a parada real e ficando bêbado. Se todo “vinho” era tão baixo em
conteúdo alcóolico, então as pessoas teriam que consumir galões e galões para
ficarem embriagadas. Além disso, este argumento de baixo teor alcóolico não tem
suporte no conhecimento histórico, consensualmente, todos os estudiosos
concordam que o vinho dos tempos Bíblicos continham geralmente entre 5-20% de
teor alcóolico, o suficiente para intoxicar, afirma o teólogo Eric Adams. “Ironicamente,
um argumento abstencionista popular era que o ônus da prova deveria recair
sobre aqueles que afirmavam que o vinho Bíblico continha álcool. Esta ousadia
clama precisamente o oposto da realidade. Os Abstencionistas falharam em provar
que a diluição era uma prática universal”. Realmente, ficaria estranho o Bom
Samaritano pôr “suco de uva” nas feridas do homem indo para Jericó (Lucas
10:34), ficaria estranho o conselho de Paulo a Timóteo de beber “suco de uva”
pra o seu estômago (1 Timóteo 5:23), se era “suco de uva” então o argumento do
irmão mais fraco não tem propósito (Romanos 14; 1 Coríntios 8). O álcool pode intoxicar,
limpar feridas e curar problemas no estômago. O suco de uva não faz nenhuma dessas
coisas. Por que alguém desaprovaria o consumo de suco de uva? A fé de ninguém é
ameaçada pela graça do suco. Mas com
certeza, se a bíblia dissesse que suco de uva é pecado, os puritanos do século
XX teriam proibido também. E o exemplo mais clássico de todos e o mais
emblemático, muito mais até que o da Santa Ceia, é o do primeiro milagre
público de Cristo, a party de Canaã (João 2), leia-se:
1 E no terceiro
dia houve um casamento em Canaã da Galileia; e a mãe de Jesus estava lá:
2 E tanto Jesus quanto seus discípulos foram chamados
para o casamento.
3 E quando eles quiseram vinho, a mãe de Jesus disse a
ele, Eles não têm vinho.
4 Jesus disse pra ela, Mulher, quê que eu tenho a ver
contigo? Minha hora ainda não chegou.
5 A mãe dele disse aos servos, O que quer que ele lhes
diga pra fazer, façam-no.
6 E estavam lá fixados seis grandes talhas de pedra,
para a purificação dos Judeus, e em cada uma delas cabiam dois ou três almudes.
7 Jesus disse a eles, Encham as talhas com água. E eles
encheram até a borda.
8 E Ele disse pra eles, Tirai agora, e levai ao
mestre-sala.
9 E logo que o mestre-sala provou a água feita vinho
(não sabendo de onde viera, mas os serventes que tinham tirado a água sabiam),
chamou o esposo,
10 E disse pra eles, Todo homem no início da festa serve
o melhor vinho, e quando os homens já estão bem bêbados, então servem o pior:
mas tu mantivestes o bom vinho até agora.
11 Este início dos milagres fez Jesus em Canaã na
Galileia, e manifestou a sua glória; e seus discípulos acreditaram nele.
Então, praqueles que tinham dúvida,
confirmado: beber não é pecado.
Chego a sentir raiva porque Cristo não fumou um
baseado, não seria pecado e não seria proibido, a sociedade não ficaria
entalada com a moral travestida de álcool.
Existe um consenso de que a cannabis é uma
droga e que sua liberação se constituirá em um problema a mais para uma
sociedade já debilitada, e que o álcool é um mal necessário, historicamente
comprovado. Lutero dizia que existia um diabo branco e um diabo preto, e que o
diabo branco era pior. Não sei se o diabo preto era a maconha e o diabo branco
era a cocaína. Da mesma forma, pensei: “pô, então deve existir um deus branco e
um deus preto”. O cristianismo é uma ideologia atomizada, que as inúmeras
quantidades de interpretações fogem de um juízo perfeito, tão importante pra
moral.
Da mesma forma como deus é um, as drogas são
uma. Ou se proíbe tudo, ou se libera tudo. O estágio sóbrio como prega o Deus
Bíblico, invalida qualquer condição de temperança, ao mesmo tempo em que a
condição de pecado zero, como quer Cristo, invalida a confiança. É impossível
saber ao certo se estou ou não transacionando com o Diabo.
O que vale pra um, tem que valer pro outro,
esse é o principio básico da moral, a igualdade. É impossível iniciar uma
proibição sem um compromisso com a verdade.
O álcool será julgado outra vez, isso é um
fato. E os motivos, expostos acima, algo foi inicializado, aconteceu uma
formatação de idéias, um registro se perdeu, tá indexado em algum lugar aí nas
suas mentes, e já já alguém irá propor uma reforma, uma nova formatação, uma
que será capaz de eliminar todos os males, todos os evils, todos os pecados.
Aos que leram, obrigado. Usei uma ampla
literatura pra montar, e a tese é bem maior, isso é apenas um resumo. A idéia
aqui não foi confrontar as duas drogas, as opiniões já estão formatadas, apenas
entender o que foi aquela proibição e que essas coisas não morreram, elas estão
bem vivas, esperando a sua oportunidade.
O grande historiador Bill Potter acrescentaria
também, em seu Vision Forum Ministries, que teria entendido os movimentos
Puritanos Calvinistas como os “matadores de alegria”. Ainda de acordo com ele,
o “... H.L. Mencken, descreveu o puritanismo como: o viver com medo de que alguém, em algum lugar, possa ser feliz”.